O PMDB nasceu como MDB, partido de oposição à ditadura militar.Eu,
particularmente, nunca engoli esta idéia. Enquanto as forças opositoras
ao regime eram perseguidas, torturadas e "exiladas", um grupo de
caciques políticos, ávidos por manter seu status e vantagens políticas,
costurou um acordo com os militares para permanecer como oposição
"branca" ao regime.
E é exatamente nesse ponto que gostaria de
tocar. Costurar acordos. Ou, utilizando o nome mais técnico no meio,
"fisiologismo político".
Essa é a mola-mestre do esquema. Desde o
governo Sarney, o PMDB vive desta forma: elegendo sua imensa bancada
congressista, através das fortes lideranças regionais, e tornando o
eventual presidente e seu partido reféns dos caprichos peemedebistas.
Foi assim no governo Itamar. Foi assim nos 8 anos do FHC e tucanada. Foi
assim nos 4 primeiros anos do governo Lula e PT. E será assim novamente
nos próximos 4.
Aí, é aquela velha história. Ministério pra cá,
presidência do senado pra lá, Jáder pra cá, Renan pra lá, Sarney pra cá,
Temer pra lá.
Reparem na última declaração do atual presidente
do partido, Michel Temer, dizendo que 75% do partido está "fechado" com o
próximo governo Lula. Frase, no mínimo, curiosa. Primeiro pela exatidão
da porcentagem. Veja bem, não é a maioria do partido, são exatos 75%.
Nossa, que precisão matemática, hein?
Mas o mais importante é a
mensagem por trás da frase. Mensagem clara e objetiva. Ela diz: "Olha,
seu Inácio, o partido não está inteiro com o senhor. Tem gente na
oposição. Dependendo do que o senhor nos oferecer, o percentual aumenta
ou diminui, capisce?".
Ou seja, mais 4 anos de fisiologismo e de pedidos de benção para a eminência parda da bancada peemedebista.
Já
ocorreu ao querido leitor porque um partido do tamanho do PMDB,
escorado no prestígio obtido pela liderança em movimentos históricos
como o Diretas Já e o Impeachment do Collor, jamais teve interesse em
eleger um presidente da república?
Ou melhor, um partido que
historicamente "queimou" seus aspirantes ao Palácio do Planalto,
abandonando-os à própria sorte durante a campanha (Ulisses, Quércia) ou
sabotando-os nas plenárias partidárias (Garotinho).
Por que esse padrão de comportamento?
A
resposta é simples. Fisiologismo político é mais fácil e seguro. Uma
pressão na aprovação do orçamento, uma verba conseguida aqui para
construir uma ponte no estado x, outra verba liberada ali para reformar
uma estrada no estado y, e assim as lideranças regionais (caciques)
continuam mamando nas tetas da viúva, mantendo governadores e deputados
federais a seu serviço.
Projeto para o país? Para quê? O negócio é
ser como biruta de aeroporto. Para onde bate o vento, a gente vai
atrás. Pois, como dizia meu falecido avô, "farinha pouca, meu pirão
primeiro!".
E quem se importa em fazer a farinha crescer?
E a hidra, com suas inúmeras "cabeças", continua se movendo e devorando tudo que vê pela frente...